terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Sedentarismo pode remodelar o cérebro (para pior)

Por GRETCHEN REYNOLDS
Estudos demonstram que o exercício pode modificar o cérebro, levando à criação de novas células cerebrais e induzindo a outras mudanças. Agora, parece que também a inatividade é capaz de remodelar o cérebro, segundo uma nova pesquisa. O estudo, realizado em ratos, mostrou que ser sedentário modifica o formato de certos neurônios, de modo a afetar significativamente não só o cérebro como também o coração. As descobertas podem ajudar a explicar por que um estilo de vida sedentário é tão ruim para nós.
Até cerca de 20 anos atrás, a maioria dos cientistas acreditava que a estrutura do cérebro era fixada na idade adulta. Mas, nos anos seguintes, estudos neurológicos demonstraram que o cérebro pode ser reformulado ao longo de nossas vidas. O exercício parece ser particularmente apto a remodelar o cérebro.
Mas pouco se sabia sobre se a inatividade também altera a estrutura do cérebro e quais são as eventuais consequências. Assim, para um estudo recentemente publicado na revista "The Journal of Comparative Neurology", cientistas da Escola de Medicina da Universidade Estadual de Wayne, em Michigan, reuniram uma dúzia de ratos. Eles deixaram metade presa em gaiolas com rodas de corrida. Os outros ratos foram alojados em gaiolas sem rodas, onde permaneceram sedentários. Após quase três meses, foi injetado nos animais um corante especial que destaca certos neurônios do cérebro. Os cientistas queriam marcar os neurônios no bulbo ventrolateral rostral, uma obscura área do cérebro que controla a respiração e outras atividades inconscientes.
O bulbo ventrolateral rostral comanda o sistema nervoso simpático do organismo, que, entre outras coisas, controla a pressão arterial, alterando a constrição dos vasos sanguíneos. Embora a maior parte da ciência relacionada ao bulbo ventrolateral rostral tenha sido desenvolvida com base em animais, estudos de imagem em pessoas sugerem que temos a mesma região no cérebro e que ela funciona de forma semelhante.
Um sistema nervoso simpático bem regulado orienta corretamente os vasos sanguíneos a se dilatarem ou contraírem conforme a necessidade e o volume de sangue a circular. Mas um sistema nervoso simpático excessivamente sensível é problemático, disse Patrick Mueller, que supervisionou o novo estudo.
Quando os cientistas examinaram o interior do cérebro dos ratos, após 12 semanas, eles encontraram diferenças notáveis quanto ao formato de alguns neurônios nos dois grupos. Usando um software de digitalização para recriar o interior do cérebro dos animais, os cientistas estabeleceram que os neurônios nos cérebros dos ratos que corriam ainda tinham um formato semelhante ao do começo do estudo. Já nos ratos sedentários, muitos dos neurônios haviam desenvolvido novos dendritos, ou seja, braços semelhantes a tentáculos. Os dendritos conectam neurônios saudáveis ao sistema nervoso. Mas esses neurônios agora tinham mais braços, tornando-os mais sensíveis aos estímulos.
Na prática, esses neurônios haviam se alterado de modo a se tornarem mais propensos a superestimularem o sistema nervoso simpático, potencialmente aumentando a pressão arterial, o que contribui para o desenvolvimento de doença cardíaca.
Fonte: NYT, 18.02.2014
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Genes neandertais persistem no homem

Por CARL ZIMMER
Desde a descoberta, feita em 2010, de que os neandertais se miscigenaram com os ancestrais das pessoas que vivem hoje, os cientistas tentam determinar como o DNA neandertal afeta os seres humanos. Agora, dois novos estudos rastrearam a história do DNA neandertal e localizaram vários genes que podem ter importância médica.
Entre as descobertas, estão pistas da evolução da pele e da fertilidade, assim como a suscetibilidade a doenças como diabetes. O legado genético neandertal perdurou por 30 mil anos desde a extinção dos neandertais.
Na década de 1990, pesquisadores começaram a encontrar fragmentos de DNA neandertal em fósseis. Em 2010, eles tinham reconstruído a maior parte do genoma neandertal.
Quando os pesquisadores o compararam com os genomas de cinco humanos vivos, encontraram semelhanças com pequenas partes do DNA de europeus e asiáticos. Os pesquisadores concluíram que os neandertais e os humanos modernos deviam ter se miscigenado.
Os humanos modernos evoluíram na África e depois migraram para a Ásia e a Europa, onde viviam os neandertais. Pesquisadores estimaram que essa miscigenação ocorreu entre 37 mil e 85 mil anos atrás.
Sir Paul A. Mellars, arqueólogo das Universidades de Cambridge e de Edimburgo, disse que a evidência arqueológica sugere que as oportunidades de os humanos modernos se acasalarem com neandertais teriam sido comuns depois que os humanos deixaram a África.
"Eles encontrariam neandertais em toda esquina", brincou.
Recentemente, pesquisadores sequenciaram um genoma de alta qualidade de um osso do pé de um neandertal. Cientistas da Escola de Medicina de Harvard e do Instituto Max Planck para Antropologia Evolucionária, na Alemanha, compararam esse genoma com os de 1.004 pessoas vivas. Eles identificaram segmentos específicos do DNA neandertal no genoma de cada pessoa.
"É um mapa pessoal da ancestralidade neandertal", disse David Reich, da Escola de Medicina de Harvard, que liderou a equipe de pesquisa. Seus resultados foram publicados na revista "Nature".
Os humanos vivos não têm muito DNA neandertal, concluíram o doutor Reich e seus colegas, mas alguns genes de neandertais tornaram-se comuns. Isso porque, com a seleção natural, os genes úteis sobrevivem conforme as espécies evoluem.
"O que isso prova é que esses genes foram úteis para os não africanos se adaptarem ao meio ambiente", disse o doutor Reich.
Em outro estudo, publicado na "Science", Benjamin Vernot e Joshua M. Akey, da Universidade de Washington, chegaram a uma conclusão semelhante, usando um método diferente. Vernot e o doutor Akey procuraram mutações incomuns nos genomas de 379 europeus e de 286 asiáticos. Os segmentos de DNA que continham essas mutações vieram a ser de neandertais.
Ambos os estudos sugerem que os genes de neandertais envolvidos na pele e no cabelo foram preferidos pela seleção natural nos humanos. Hoje esses genes são muito comuns em não africanos.
Sriram Sankararaman, da Escola de Medicina de Harvard, coautor do trabalho publicado na "Nature", especulou que os genes se desenvolveram para ajudar a pele neandertal a se adaptar ao clima frio da Europa e da Ásia.
Hoje os humanos têm muitos poucos genes neandertais que participam da produção de esperma. Isso sugere que indivíduos machos híbridos de humanos e neandertais poderiam ter fertilidade menor ou mesmo ser estéreis.
Alguns genes de neandertal que perduraram podem estar influenciando a saúde das pessoas. O doutor Reich e seus colegas identificaram nove genes neandertais em humanos vivos que são conhecidos por aumentar ou reduzir o risco de várias doenças, incluindo diabetes e lúpus.
Fonte: NYT, 18.02.2014.
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